sábado, 6 de novembro de 2010

Roupa suja se lava em casa

Os leitores não-guarulhenses que me perdoem, mas hoje é dia de falar com o pessoal daqui. Mas, quem quiser nos emprestar o ombro, encosta aqui neste post.

Quem frequenta o Shopping Internacional já viu a Casa Saraceni. Sabe aquela casa no centro do estacionamento? É ela.


Nunca passou nem na frente do Internacional? Então você não terá a oportunidade de ver este patrimônio histórico da cidade. A Casa Saraceni foi demolida esta noite.


Para quem não conhece essa história, como eu mesma não conhecia, vou contar: a casa foi adquirida pelo imigrante italiano José Saraceni para estabelecer sua fábrica de polainas, sandálias e artigos de couro. Ao redor da casa se estabeleceu a Vila Operária, com casas e uma escola para os trabalhadores da fábrica.

Em 1973 a chácara foi vendida à Olivetti. A vila operária foi demolida, mas a empresa decidiu preservar a chácara e o quintal da família Saraceni, que foi tombada pelo patrimônio histórico municipal em 1990.

Mas, dez anos depois, o grupo Internacional, novos administradores do terreno, entra com pedido de demolição da casa. Para aumentar o estacionamento do shopping, certamente... E a Casa veio abaixo na última madrugada.

A população guarulhense é quem perde com essa decisão. Mais um pouco de sua história vem abaixo, e cada vez mais ela se perde nos escombros, monumentos mal cuidados ou o trem fedido da praça IV Centenário. E a pergunta é: até quando?


* Leia mais aqui, aqui e aqui também. E obrigada ao historiador Elmi Omar pelo triste, mas importante, aviso.

2 comentários:

cotidianoguarulhense disse...

Um marco da história foi derrubado

Elmi Omar disse...

A todos um breve resumo do ocorrido:

Em 2000 após uma tentativa de demolição por parte de seus novos proprietários (o grupo Internacional), o poder público municipal através do Decreto 21.143/00, ratifica o tombamento.

Em 20 de maio de 2010 a câmara municipal, afetada por casuísmos políticos e econômicos, aprova a impopular emenda a lei orgânica municipal elaborada pelo vereador Geraldo Celestino (PSDB), apesar da base aliada do governo (PT) ser maioria e supostamente contra o cancelamento de tombo do Casarão Histórico.

Movimentos sociais e cidadãos guarulhenses reagiram contra essa decisão, inicialmente apoiados pelo executivo. No entanto maquiavelicamente a secretaria de cultura (PT) na pessoa do secretário Hélio Arantes tutela uma reunião do Conselho de Patrimônio, reorganizado recentemente, sem Regimento Interno, nem votação de quem exerceriam os cargos executivos, tampouco grupos de trabalho e outras seções que se adequassem a diagnosticar, estudar, discutir, com a qualidade que o tema exige.

A sociedade civil, em minoria, resistiu duramente nesta longa reunião (5 horas), mas sob influência de um parecer parcial e unilateral, baseando-se apenas no valor arquitetônico, (laudo do Faggin) vota a favor do "destombamento" com maioria dos conselheiros do poder executivo.

Na calada da noite, sem a publicação do decreto do prefeito Sebastião Almeida (PT), assim que souberam que haveria manifestações contrárias à demolição, executou-se a destruição material da história guarulhense. Entraram para história as pessoas que participaram desse processo de "destombamento". A materialidade da memória ficou em ruínas, mas a memória e história, não se destrói. No ano que Guarulhos comemora os seus "450 anos", esse é o presente que ganhamos... resta-nos lamentar?